quarta-feira, 29 de setembro de 2010

RETRATO

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?

Cecília Meireles

4 comentários:

Daniel Costa disse...

Carmela

AS as palavras no poema de Cecília Meireles são certeiras, se pode notar em todos os seus poemas.-
Boa opção.

Everson Russo disse...

Belissimo,,,,beijos de otima quinta feira.

SAM disse...

Versos,

este poema é tão sensacional que parece sobrenatural rsrs. É de uma sensibilidade absurda, como aliás todos os poemas e textos de Cecília. Acho que todos nós em algum momento da vida já nos olhamos no espelho ou nos vimos num retrato e nos sentimos " um cadinho" assim...

Beijão!

Unknown disse...

Passando pelo teu blog, li belos versos.
Gostei da arrumação. meus parabéns

Estou procurando amigos

Fiz um verso de mesmo significado do RETRATO Cecília Meireles.
Vê se gosta:


POLICIAIS DO TEMPO

Sonhei com os policiais do tempo;
Traziam um mandato postergado para o homem.
Acusava-o de ter raptado um moço.
— O sonho era confuso;
O moço era o homem,
O homem era eu.
Tentei explicar o equivoco, dizendo:
É o anterior a quem vocês procuram.

Já fui o moço… em outro calendário,
Trocaram-me por este homem.

texto de J.Vitor